QUER SABER:


"Pastor, a oração muda ou influencia a decisão de Deus?" Como você responderia a essa pergunta?

Um jovem me abordou outro dia e disse: “Pastor, tenho varias perguntas que preciso de respostas. Posso lhe mandar pelo WhatsApp?” Minha resposta foi: “Pode sim, mas mande uma de cada vez”. Quando chegou primeira, resolvi respondê-la e postar em meu blog para uso geral de tantos outros que têm, ou já tiveram, a mesma dúvida. Em suas próprias palavras, a pergunta foi: “Pastor, as orações mudam ou influenciam as decisões de Deus? Se não, por que oramos? Explique aquela passagem que fala que não era da vontade de Deus dar um rei a Israel mas acabou concedendo. Se sim, por quê?”

Caro Marcos (pseudônimo), sua pergunta já deixou vários teólogos quase loucos e os livros que eles escreveram acabaram deixando os crentes mais loucos que eles. Creio que o ponto mais difícil de sua pergunta é “Por que oramos?” A forma como você apresentou sua dúvida deixou claro que, até onde você consegue entender, a oração tem duas finalidades: mudar ou influenciar as decisões de Deus. Seguindo esse raciocínio, alguém poderia concluir que, se ela não servir para qualquer dessas duas opções, então não faz sentido gastar nosso tempo orando.

Antes de responder a sua dúvida quanto à passagem do rei, deixe-me comentar sobre outro episódio bíblico que trata da primeira parte da sua pergunta. Quando ficou sabendo que o Senhor já havia decidido destruir todo o povo de Israel por causa da adoração do bezerro de ouro, Moisés tomou a iniciativa de orar para reverter a situação. O episódio é descrito em Êxodo 32.1-14. A impressão que temos ao ler a sua oração não é aquela de alguém que já se prepara para uma possível resposta negativa com o famoso “mas, não sendo da tua vontade…”. Por causa de textos como esse, Marcos, muitos teólogos têm adotado a postura unilateral: Ou a oração muda e influencia a decisão de Deus, ou ela não serve para nada.

Nesse caso específico que mencionei (Êx 32.1-14), a oração de Moisés obteve êxito. Deus não executou aquilo que já havia decidido. Diante disso, a pergunta é: Deus não executou o que havia decidido por causa da oração de Moisés, ou por outro motivo que não sabemos? Se foi por causa daquilo que Moisés disse, então podemos afirmar que a oração tem sim poder de influenciar e mudar a decisão de Deus. Se foi por outro motivo que não sabemos, então não podemos afirmar nada conclusivamente. A resposta para esse dilema não é tão complicada. Há duas coisas a ser consideradas.

Primeiro, o motivo do sucesso da oração de Moisés não se deve somente àquilo que ele disse, ou seja, a eficácia não está relacionada à sua boa retórica. Isso é fácil de provar. O texto continua dizendo que “no dia seguinte” (Êx 32.30-34) Moisés suplica a Deus pelo perdão por causa daquilo que o povo fez, mas sua oração foi veementemente recusada. O que aconteceu com a retórica de Moisés e o poder de sua oração? Veja que estamos ainda tratando do mesmo Moisés pedindo ao mesmo Deus a respeito do mesmo povo, mas o resultado não foi o mesmo. Isso não vale somente para Moisés; o profeta Jeremias foi proibido até de orar: “Tu, pois, não intercedas por este povo, nem levantes por ele clamor ou oração, nem me importunes, porque eu não te ouvirei” (Jr 7.16).

Assim sendo, meu caro Marcos, baseando-nos no que aconteceu com Moisés (e Ezequias (Is 38.1-8), para citar mais um exemplo) podemos afirmar que a oração pode influenciar e até mudar os planos de Deus. A razão para ele fazer isso não está na oração nem no orador, pois, como vimos no caso de Moisés, o mesmo suplicante não tem o mesmo sucesso todos os dias. Eu creio e prego que o sucesso da primeira intercessão de Moisés se deveu ao seu papel de mediador, um tipo daquilo que Cristo faria na cruz. Ao olhar para aquela petição de Moisés, Deus poderia pensar: “É Moisés, o que você está me pedindo agora, meu filho unigênito já havia pedido antes da fundação do mundo, e o pedido dele foi mais convincente que o seu”. Em outras palavras, o pedido de Moisés para que Deus não castigasse aquele povo pelo pecado da idolatria é apenas um exemplo daquilo que Cristo faz por nós diariamente.

O segundo ponto a ser considerado é: Qual é a finalidade da oração quando ela não influencia nem muda os planos de Deus? Por incrível que pareça, Moisés também ilustra esse ponto. Após ter seu pedido negado, mesmo tendo sido feito com mais insistência (“Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste” Êx 32.32). Moisés usa a oração para desfrutar e fortalecer sua intimidade com Deus. Êxodo 33.7-11 nos diz que Moisés costumava armar a sua tenda fora do arraial para buscar a face do Senhor. Estar na tenda não era sinal de intimidade, pois o seu servo Josué não arredava o pé da tenda, mas o Senhor falava somente com Moisés. A intimidade construída por meio de uma oração que não se restringe aos dois extremos influenciar-mudar foi tão eficiente que a Bíblia a descreve nos seguintes termos: “Falava o SENHOR a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo” (Êx 33.11). Por que isso é importante para o assunto de que estamos tratando? Ora, isso nos mostra que a intimidade construída por meio da oração pode ser o meio mais eficaz para conseguir o que queremos. Se você continuar lendo o capítulo 33 de Êxodo, você verá que aquilo que foi negado a Moisés quando ele orou (Êx 32.32) foi concedido quando ele achou favor na presença de Deus: “Disse o SENHOR a Moisés: Farei também isto que disseste; porque achaste graça aos meus olhos, e eu te conheço pelo teu nome” (Êx 33.17).

Assim sendo, meu caro Marcos, o principal propósito da oração não é pedir, mas construir intimidade. Quando alcançamos esse tipo de intimidade mencionada em Êxodo, nossos pedidos tendem a diminuir, pois saberemos antecipadamente aquilo que Deus fará, aquilo que lhe agrada e o dilema do influencia-muda não mais nos afligirá. Olhando agora da perspectiva da Bíblia como um todo, não podemos nos esquecer do que disse o apóstolo Paulo: “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26).

Ah, sim!? Com respeito ao pedido do rei. O caso ali nem é de oração, pois eles pediram a Samuel e não a Deus. Além disso, o que eles estavam pedindo não mudava a vontade de Deus, pois já havia provisões para um rei em Israel (Dt 17). Séculos depois, o Senhor explica o motivo da sua decisão por meio do profeta Oséias quando diz: “Onde está, agora, o teu rei, para que te salve em todas as tuas cidades? E os teus juízes, dos quais disseste: Dá-me rei e príncipes? Dei-te um rei na minha ira e to tirei no meu furor” (Os 13.10–11). Ou seja, dar-lhes um rei foi na verdade um castigo para ensinar que Deus é quem reina sobre eles.

Espero que minha resposta tenha lhe ajudado, Marcos. Estou orando por você.


Daniel Santos .
🙌😉

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